VITAMINA C: QUAL SEU PAPEL NO SISTEMA IMUNE?



A vitamina C ou ácido ascórbico é um nutriente hidrossolúvel que participa de diversos processos metabólicos. Podemos destacar a inativação de radicais livres e o aumento da absorção de ferro dietético, devido à sua capacidade de reduzir a forma férrica (Fe3+) a ferrosa (Fe2+), propiciando, assim, absorção do ferro não-heme no trato gastrintestinal. Também atua como co-fator enzimático na biossíntese de colágeno e de L-carnitina, conversão do neurotransmissor dopamina a norepinefrina, na amidação peptídica e no metabolismo da tirosina.
Desta maneira, a vitamina C é um nutriente essencial para seres humanos. Ela age como um antioxidante, potente agente redutor de radicais livres prejudiciais, e também nutre as células, protegendo-as de danos causados pelos oxidantes. O ácido ascórbico é o antioxidante mais eficaz presente no sangue humano e pode ser importante na proteção de doenças relacionadas ao estresse e degeneração.



O reconhecimento de que o consumo de vitamina C pode ter potenciais terapêuticos benéficos sobre câncer e doenças cardiovasculares renovaram o interesse em se determinar os requerimentos diários desta vitamina.



As doses dietéticas de vitamina C recomendadas pela RDA (Recommended dietary allowance), em 1989, foram elevadas com a criação das DRIs (Dietary Reference Intakes), em 2000. A recomendação norte-americana diária para o consumo de vitamina C foi elevada para 75 mg para mulheres e 90 mg para homens.



A vitamina C é absorvida no jejuno e no íleo, porções distais do intestino delgado, através de transporte ativo específico sódio-dependente. A capacidade de absorção do ácido ascórbico é limitada pela quantidade de transportadores presentes. Em adultos saudáveis, a absorção máxima é de 200 mg/dia e a biodisponibilidade diminui com o aumento de doses orais.



A quantidade e biodisponibilidade de vitamina C possuem grande variedade nas frutas e vegetais. Uma ingestão regular de uma variedade de frutas e vegetais providenciaria uma quantidade adequada de vitamina C. Na impossibilidade de uma dieta balanceada nesta vitamina, a suplementação se mostra igualmente eficaz na manutenção das propriedades antioxidantes associadas a esta vitamina, como demonstrado em estudo comparativo entre ingestão de suco de laranja e suplemento de vitamina C. A ingestão de 70 mg de vitamina C em voluntárias saudáveis durante 12 semanas, na forma de cápsulas ou suco de laranja natural, demonstrou ser igualmente eficaz na diminuição da peroxidação lipídica e manutenção das atividades antioxidantes.



A vitamina C natural ou sintética possui mesma estrutura química e propriedade antioxidante. No entanto, nas frutas e verduras existem bioflavonóides, além de carboidratos e proteínas, que estão associados a uma melhor absorção e estabilidade do ácido ascórbico. Assim, provavelmente suplementos contendo bioflavonóides seriam melhor aproveitados pelo organismo. Vinson & Bose (1988) realizaram um estudo para determinar qual a forma de vitamina C mais biodisponível em suplementos: se o ácido ascórbico puro ou em extrato cítrico natural contendo bioflavanóides, proteínas e carboidratos. Em oito pessoas em jejum, uma dose única de 500 mg de suplemento, nas duas formas, mostrou que a vitamina C do extrato cítrico foi 35% mais absorvida (p <>


Vale ressaltar que altas doses de vitamina C por via oral podem causar desconforto intestinal e diarréia, resultantes da retenção de ácido ascórbico no lúmen intestinal. Além disso, após atingir concentração máxima nos tecidos, o organismo elimina o excesso de vitamina C pelos rins, sendo os principais metabólitos excretados na urina, como o ácido ascórbico inalterado, ácido desidroascórbico, ácido oxálico e ácido 2,3-dicetogulônico.



Em condições fisiológicas normais, os componentes celulares não são protegidos totalmente por antioxidantes endógenos, e é bem estabelecido que antioxidantes obtidos da dieta são indispensáveis para a defesa apropriada contra oxidação e, portanto, têm importante papel na manutenção da saúde . Os benefícios associados ao consumo de frutas e hortaliças devem-se, em parte, à presença de antioxidantes nestes alimentos .



Os radicais livres, espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio (ROS/RNS), são formados endogenamente como resultantes de reações metabólicas oxidativas fisiológicas do organismo. O estresse oxidativo prejudicial pode resultar num balanço crítico entre a geração de radicais livres e defesas antioxidantes insuficientes. Este desequilíbrio pode desempenhar papel importante no desenvolvimento de doenças cardiovasculares, na iniciação do câncer, formação de catarata, doenças inflamatórias e no processo de envelhecimento.



No sistema imune, a vitamina C atua como antioxidante, protegendo as células do organismo contra o estresse oxidativo, causado por infecções. Sua concentração em fagócitos e linfócitos é alta quando comparada a níveis plasmáticos, o que pode indicar um papel no funcionamento destas células. Em estudos experimentais, a vitamina C aumentou o funcionamento dos fagócitos, a proliferação de linfócitos-T e a produção de interferon, e diminuiu a replicação viral. De acordo com estudos em animais, a vitamina C aumentou a resistência do organismo a infecções virais e bacterianas.



Apesar de todos estes efeitos benéficos ao organismo, o uso amplo e popular de suplementos de vitamina C para prevenção e tratamento de resfriado comum gera controvérsias há mais de 60 anos.Recente revisão Cochrane (2007) avaliou 30 estudos clínicos com total de 11.350 participantes, sobre a suplementação de 200 mg/dia de vitamina C para prevenção e tratamento do resfriado comum. A suplementação não apresentou nenhum efeito para prevenção e tratamento (duração e gravidade dos sintomas) de resfriado na população normal. Os autores concluem que o uso de altas doses de vitamina C de rotina, como profilaxia, não tem uso racional justificado na comunidade. No entanto, em dois tipos de populações, o uso de suplementos de vitamina C pode ser justificado. Os autores encontraram diminuição de 50% na incidência de resfriado comum após suplementação de vitamina C em pessoas expostas a períodos de atividades físicas extremas, por exemplo, maratona, e em ambientes muito frios ou ambos.



A vitamina C é importante para diversas atividades metabólicas do organismo, e destaca-se principalmente pelo combate aos radicais livres e estresse oxidativo através de seu potencial antioxidante. Sendo o estresse oxidativo relacionado a diversas doenças degenerativas (aterosclerose, diabetes), inflamatórias (artrite reumatóide, colite ulcerativa e pancreatite), neurológicas e cancerígenas, é de fundamental importância prevenir seu aparecimento através da maneira mais saudável possível: ingerir sempre alimentos ricos em vitamina C, alimentos fortificados ou suplementos alimentares que contenham essa vitamina.